Como dar início a uma vida FIT?

Muita gente se matricula na academia em busca de uma mudança na sua rotina e, no âmbito físico, psicológico e social, isso tende a ser muito benéfico. Mas o quão fácil é largar de mão uma vida parada e uma alimentação desregrada em troca de esteiras, halteres e dietas? Que desafios isso implica?

A psiquiatra Juliana Azevedo é especialista em transtornos alimentares e, em entrevista exclusiva para o blog da FIT, explica como alterações de hábito podem afetar o corpo e a mente. 

 

 

De maneira geral, como o cérebro reage às mudanças? 

Em geral, toda mudança é um processo difícil. A tendência do nosso cérebro – ou melhor, da mente e do corpo – é manter os velhos hábitos. A gente usa uma palavra para explicar isso que é a homeostasia: temos uma tendência natural a manter o que aprendemos e o que nos acostumamos. O que aparentemente parece um hábito ruim, por exemplo, comer muito ou comer doce, na verdade é uma saída que o corpo encontra para resolver alguns problemas, sejam eles de ordem psíquica – depressão, ansiedade, angústia – ou de ordem física – muito tempo sem comer causa hipoglicemia, falta de açúcar no sangue, e o corpo vai querer doce para poder se recuperar mais rápido. O que se chama de boicote, sob um ponto de vista mais funcional, é uma tendência do corpo a se manter defendido, porque uma mudança, por melhor que pareça, é sempre algo muito desconhecido – e tudo que é muito desconhecido para nós gera medo, insegurança, dúvida. 

 

De que maneira a gente consegue transformar essa perspectiva de mudança em algo, de fato, concreto?

Principalmente, temos que ultrapassar esse medo, essa angústia que gera a questão da mudança. Para isso, primeiro temos que identificar onde se encontram os principais problemas. “Por que não consigo levar uma vida saudável? O que acaba acontecendo na minha rotina? Quais os pontos, nossos nós críticos, que precisam ser identificados para a gente saber por onde começar?” Eu sempre digo: qualquer mudança requer que se dê um passo depois do outro. Nunca vamos conseguir mudar tudo de uma vez só. Depois disso, temos que saber quais problemas conseguiremos solucionar de maneira mais rápida. Sempre nos preocupamos com problemas maiores e depois com os menores, mas temos que buscar o menor “nozinho” para depois chegar no nó mais complexo.

 

Adianta ter somente uma alimentação saudável ou somente uma rotina de exercícios?

Com certeza não. Na verdade, o equilíbrio é a palavra mais buscada para tudo em nossa vida, é o que a gente tenta manter. O nosso corpo nasce preparado para se movimentar, é uma coisa da natureza e nossa rotina atual faz com que fiquemos muito tempo parados. Com esse estilo de vida, a gente tem uma tendência muito grande a desenvolver problemas relacionados ao sedentarismo. No momento que entendemos que nosso corpo é feito para se movimentar, que a maioria das doenças relativas ao sedentarismo melhoram com a atividade física, seja ela qual for, comecamos a ficar mais conscientes e conseguimos nos organizar melhor. A alimentação não é diferente: precisamos sair do automático, de comer da maneira em que estamos acostumados, para ter uma consciência sobre o papel da comida em nossa vida. No momento em que a comida passa a significar felicidade, não tem como funcionar. Tem que achar outra forma de resolver esse tipo de problema e fazer com que a comida volte a significar “comida”.

 

Como tu percebes a relação das pessoas com a alimentação?

Muitas vezes, a alimentação aparece na vida das pessoas como um problema. A gente tem uma cultura muito ruim em relação a isso. A alimentação está muito ligada aos sentimentos, nos acostumamos a associar momentos de felicidade ou de tristeza com comer alguma coisa. É comum, quando estamos com mais raiva, comermos coisas mais duras – amendoins, castanhas – e em momentos em que estamos mais tristes, comermos doces, associados com uma ideia de felicidade. Uma das coisas fundamentais para a organização, então, é acabar com essa ilusão e separar a alimentação dos nossos sentimentos. Eventualmente, se comermos algo doce, poderemos ficar mais felizes. Mas se isso se torna uma rotina, a gente tem que descobrir qual é o problema da tristeza, porque a solução não vai estar no doce. 

 

Tem alguma dica para quem está começando ou quer começar um estilo de vida saudável mas ainda não conseguiu?

Bom, o começo sempre é a parte mais complicada. É onde batem aqueles sentimentos que nos travam nesse processo de mudança: o medo, a incerteza, se vai conseguir, se vai ser melhor. Acho que voltamos para a questão de “quais são minhas principais dificuldades?”. Às vezes, a dificuldade é conseguir se organizar com os horários, mas às vezes é um problema de saúde que a pessoa nem sabe que tem – anemia, depressão – que precisa ser tratado para poder desenvolver a atividade física ou se organizar com a alimentação, por exemplo. Então, o primeiro de tudo é parar para se olhar. Uma dica que posso dar é fazer um diário de uma semana da tua vida, com todas as tuas atividades, o que tu fez, o que tu comeu. Anota tudo, de hora em hora, e vai estar ali um parecer sobre ti mesmo, que vai te fazer refletir sobre coisas que são automáticas mas, na verdade, não deveriam ser.

 

 

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