Socializar: essencial para envelhecer com saúde

O ano de 2050 será um divisor de águas demográfico: quando chegarmos lá, 21% da população mundial terá mais do que 60 anos. O número é importante considerando que a população idosa era de somente 8% em 1950 e de 12% em 2013. Esses 21% representarão mais de dois bilhões de pessoas. Envelhecer é, portanto, uma certeza. Mas como trazer qualidade para este processo?

 

 

Matheus Minella Sgarioni é psicólogo e dedica-se à reflexão e ao tratamento das questões ligadas ao processo de envelhecimento. É o criador da NÓS 60+ Psicologia e Longevidade. Ele entende que o grande desafio de envelhecer neste século é ganhar e manter a qualidade de vida durante esta fase. “O aumento crescente da expectativa de vida vem adicionando tempo às nossas existências, mas precisamos que isso se reflita também em qualidade. A grande questão é como podemos manter nossa independência por mais tempo, desfrutando das coisas boas da vida. Isso inclui manter-se saudável e produtivo, com tempo para estar junto de quem gostamos e, fundamentalmente, sentir-se participando ativamente da construção de uma sociedade melhor”, revela.

Numa conversa exclusiva, o especialista traz aspectos fundamentais que devem ser observados especialmente pelas famílias que já têm pessoas encaminhando-se para a terceira idade.

 

Uma das grandes questões do envelhecimento está ligada à solidão/socialização. Como isso impacta a vida de quem está com seus 60 anos ou mais?

Infelizmente, o isolamento social nesta fase é muito comum. Por fatores presentes em nossa sociedade individualista, as pessoas idosas acabam sendo um elo frágil no processo de socialização. Este é um problema social que acaba impactando psicologicamente na vida de cada um, trazendo transtornos como depressão, ansiedade e, até mesmo, perda cognitiva. Tais quadros psicopatológicos provocam o agravamento de doenças crônicas e, em casos mais graves, o óbito. A solidão, portanto, é um dos principais problemas enfrentados na fase de envelhecimento e deve ser encarado com muita seriedade.

 

Qual a importância de ambientes que convidam e incluem idosos? 

A inclusão dos idosos é uma missão que todas as sociedades precisam ter. Para que consigamos lidar melhor com as dificuldades surgidas durante o processo de envelhecimento, é preciso investir na implementação de espaços que não reforcem os preconceitos ligados ao “idadismo” (“ageism”), procurando focar na capacidade que o ser humano tem de se adaptar e seguir em frente.  Ambientes “age-friendly” devem ser acolhedores e adaptados às demandas que surgem na velhice. Por outro lado, tais espaços devem ser convidativos sem serem assistencialistas, pois isso reforça a ideia de incapacidade, muitas vezes atreladas à velhice. O maior desafio é a criação de lugares que incentivem a independência e a autonomia de cada um, respeitando as limitações inerentes a esta fase. 

 

A FIT Academia oferece aulas dedicadas ao público 60+. O que deve ser estimulado nestas oportunidades de encontros?

A manutenção das capacidades ligadas às atividades de vida diária (AVD’s) deve ser um dos focos no que se refere à atividade física. Manter-se saudável é sinônimo de independência e isto está diretamente atrelado à capacidade de realizar atividades quotidianas como caminhar, banhar-se, vestir-se, etc. Do ponto de vista da socialização, me parece importantíssimo que se reserve um tempo para conversas e trocas entre os participantes das aulas. Espaços como academias são muito férteis para a criação e o fortalecimento de laços afetivos e de amizade. São ambientes que naturalmente estimulam o bem-estar através das atividades físicas, o que eleva a possibilidade de trocas positivas entre as pessoas, além do compartilhamento de bons momentos juntas. É comum que novas amizades iniciem desta forma, o que resulta na realização de outras atividades em conjunto, para além do espaço da academia (como cafés, almoços em grupo, passeios).

 

O que a socialização ativa no cérebro? E que benefícios isso pode trazer para a saúde quando combinado com a prática de exercício físico?

Somos animais sociais, como se costuma dizer. Precisamos do contato com outras pessoas para, até mesmo, saber quem somos. A socialização é fundamental para a formação e manutenção de nossa identidade, e o pertencimento impacta diretamente na nossa autoestima. Além disso, ao valorizarmos e promovermos o encontro com o outro, estamos abrindo possibilidades de conhecermos novas nuances do mundo e das diferentes formas de existir. Tudo isso se traduz em processos bioquímicos em nosso cérebro que não ocorrem de outra maneira. 

A combinação entre socialização e prática de exercícios físicos fortalece os vínculos que mantemos com os colegas e conosco mesmos; com um “eu” saudável e que procura sempre ser melhor do que já é. O estímulo do grupo, a motivação e o companheirismo favorecem muito a perseverança na atividade física, ajudando a superar a preguiça e o sedentarismo. Em outras palavras, a combinação entre socialização e exercícios físicos permite que ajudemos a nós mesmos a aos demais, tornando coletiva esta jornada em busca de mais qualidade de vida.

 

 

 

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